Portugal

Alugando carro elétrico em Portugal

abr 19, 2022 Adriana Magalhães
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Quando estivemos em Portugal em dezembro de 2021, o meu marido Bruno resolveu testar alugar um carro elétrico. Valeu a pena? Leia, a seguir, relato baseado no que ele achou, já que ele é o motorista oficial e o responsável por alugar carros em nossas viagens. 

Relato do Bruno: Vale a pena alugar carro elétrico em Portugal?

Alugamos em dezembro de 2021, em Portugal, um Dacia Spring elétrico. Na prática é um Renault Kwid elétrico. A Dacia é uma subsidiária de origem romena da Renault. 

O elétrico parece carro de brinquedo

A primeira coisa que me passou pela cabeça ao iniciar o passeio foi aquele brinquedo bate-bate. A segunda foi carrinho de golfe. Porque foi isso que eu senti, que era um carro de brinquedo. É só acelerar, frear e virar o volante. O volante era tão leve que parecia mesmo daqueles carrinhos de parque de diversões. Qualquer criança, com um assento de elevação, sairia dirigindo sem problemas. E o silêncio era impressionante, quando eu parava no sinal sempre dava uma conferida pra ver se o motor não tinha apagado. Coisa impossível, aliás. O motor só apaga se houver alguma pane ou tiver acabado a energia. De resto, o carro elétrico é silencioso como uma bicicleta. O único barulho que alguém dentro do carro ou na rua vai ouvir é do atrito dos pneus ou dos rolamentos. Um sonho pra quem mora ou trabalha em ruas movimentadas.

A aceleração dos carros elétricos

A aceleração é impressionante. Apesar de ser o modelo mais simples, tem muito mais arranque que um 1.0. O carro ia até os 100 km/h numa única toada. Ele não tem marchas, então é só o motor desenvolvendo mesmo. Mas era o modelo de entrada do carro então, repito, não se pode esperar desempenho desses carros. Ou se deve comparar com um 1.0, apesar do preço. E falando de desempenho, o meu elétrico tinha um modo econômico e um normal. Eu chutaria uma diferença de 20 a 30% no desempenho do carro. 

Alugando carro elétrico em Portugal

Dificuldade nas subidas 

Eu saí de Lisboa e fui para Nazaré, a cerca de 120 km. De cara pegamos uma autoestrada. E bem no início tinha uma subida constante. A Adriana, minha esposa, me perguntava por que eu estava devagar daquele jeito. Aí mostrei que o pé estava embaixo, mas o carro mal passava dos 60 km/h. Desliguei o modo econômico e melhorou um pouquinho, mas não foi suficiente pra embalar mais o carro. Eu deveria ter entrado mais forte na subida para ajudar a empurrar o carro com quatro pessoas a bordo. Se a gente levasse bagagem, tenho minhas dúvidas se chegaríamos aos 60 km/h. 

O mais chocante nesse caso é que na Alemanha eu tinha alugado um carro esportivo e para não chegar a 200 km/h nas autobahns sem limite de velocidade era difícil. Mas isso é história pra outro post. 

Voltemos ao carro elétrico. O nosso Dacia Spring tinha uma central multimídia simples. Não notei diferença de desempenho desligando o som ou o farol do carro, lembrando que eu estava numa rodovia. O carro, apesar de equipado com as baterias, que pesam, é levinho. Menos de mil quilos, algo pouco comum em carros elétricos, pelo que li. Então eu sentia bastante os ventos fortes de Portugal e também o arrasto dos caminhões que me ultrapassavam. Normalmente era o que acontecia. Acho que só na descida eu passava outro veículo. Vários Teslas luxuosos cortavam a minha esquerda com frequência.

Fraco desempenho em estradas

Foi fácil, portanto, descobrir que meu carrinho era adequado para cidades mas bastante limitado para viagens. Mas pelo preço, e considerando que um euro dava 6,50 reais, foi uma boa pedida. Foi o carro mais barato da locadora, saiu por 53 euros, 344 reais a diária. Uma vez que eu cheguei em Nazaré, o carrinho se mostrou muito bom. A cidade tem muitas ladeiras e ele encarava muito melhor do que um 1.0. E com o conforto de não ter que passar marchas e fazer controle de embreagem. Então eu posso afirmar que é um carro muito ágil e com motor mais do que adequado para o dia a dia. Quando fui devolver o carro para a locadora, sozinho, o desempenho foi bem melhor. Desligando o modo econômico, eu me sentia dirigindo um carro esportivo quando acendia a luz verde no semáforo. É um torque impressionante, como eu já tinha ouvido falar, esse de motores elétricos.

Reiterando que o carro que aluguei é o modelo mais simples e barato no mercado europeu. O preço gira em torno de 10 a 20 mil euros, de 65 mil a 130 mil reais dependendo do subsídio que cada país oferece. Como falei antes, é um modelo para comparar com um 1.0. Com a diferença que vem com câmbio automático, ou melhor, não tem marchas, e central multimídia. O fato de não ter que trocar óleo e não ter câmbio faz com que os motores elétricos sejam extremamente leves e simples em comparação com aqueles à combustão. Como o carro já nasce moderno as manutenções e ajustes serão simples e não duvido que, inclusive, a distância. De casa mesmo você roda um aplicativo e já sai o diagnóstico. Só vai pra oficina se houver algo realmente inadiável, como a troca de pastilha. 

Como faz pra reabastecer?

Segundo o fabricante, a bateria pode levar esse carro por 230 km. Mas eu não estava sozinho, estava com mulher e 2 filhos. Faz bastante diferença quando falamos em um carro elétrico de entrada, com motor bem simples, de 44 cavalos de potência, na prática comparável a um 1.0. Com aceleração maior e sem câmbio manual, já que o carro elétrico nem marcha tem. Mas o fato é que o carro não teria bateria para eu ir e voltar. 

Um negócio bem legal é que quando a gente freia a energia utilizada é guardada na bateria. Numa descida bem longa o medidor da bateria aumentou 2 pontinhos percentuais porque desci freando. A gente sente uma espécie de grude no pedal quando acontece essa recuperação de bateria. É uma tecnologia que a Fórmula 1 já tem há algum tempo e bem comum a carros elétricos. 

Antes da viagem eu vi que havia um ponto de recarga na cidade de Nazaré. Já fiquei um pouco mais tranquilo. Assim que entrei na autoestrada verifiquei que o primeiro posto tinha indicação de ponto de recarga. Mas nos postos seguintes não havia essa facilidade. Percebi que não seria em todo posto que haveria a comodidade. 

É preciso se programar para abastecer

Daí vai a primeira constatação. É preciso se programar. Se não é para usar apenas na cidade, onde você pode deixar carregando durante a noite e dificilmente andará mais de 200 km durante o dia, é preciso se programar, como a gente fazia antigamente na época sem GPS e apenas com o guia quatro rodas. Então eu deixei mais ou menos acertado que abasteceria em Nazaré no posto que eu havia pesquisado antes na internet. Minha ideia seria “encher o tanque” por lá e só abastecer de novo em Lisboa.

Mas entendi logo que cheguei no ponto de recarga que, em se tratando de carro elétrico, tudo é novo e não é só chegar, abastecer e pagar. Houve uma falha de entendimento na locadora, e descobri que eu tinha duas opções, depois de bater cabeça e conversar com outro motorista que estava abastecendo o carro elétrico dele. Ou eu me associava a uma espécie de clube de vantagens, com cartão pré-pago, ou baixava um aplicativo no meu celular e fazia um cadastro com meu cartão de crédito para permitir o abastecimento. 

Aplicativo para reabastecer de eletricidade

O aplicativo em questão é o Miio. Muito fácil de usar, pela localização do celular, ele via em qual estação eu me encontrava e eu dava o comando para liberar a bomba. Eu falo bomba porque era igual a uma bomba de combustível, mas deve ser só pra deixar as pessoas mais à vontade com a nova tecnologia. Porque podia ser apenas uma tomada, um plugue, enfim, não precisava ter o formato da bomba que despeja gasolina, álcool ou diesel nos carros à combustão. E esse ponto de recarga em Nazaré não era propriamente um posto de gasolina. Na verdade era uma espécie de totem no estacionamento de um McDonalds. Taí uma outra grande vantagem de veículos elétricos. Não tem aquele risco todo de lidar com material inflamável inerente aos postos de combustíveis. E tampouco o cheiro de combustível nas mãos. Eu vi inúmeros totens desses em Lisboa, em estacionamentos públicos, de shoppings, de mercados, lojas de conveniência. Imagino que seja muito baixo o custo para implantação dessas estações. Incomparável com o investimento de um posto de gasolina. 

Bem, uma vez resolvido o problema de como abastecer, foi só encaixar a bomba no ponto de abastecimento do carro e dar o comando no celular pra encher. Aí veio meu segundo grande temor. Vou ter que esperar por horas para a carga? E a resposta foi bem positiva. Entramos na lanchonete para um lanche, banheiro e deixamos o carro abastecendo. No total foram 13 minutos e 25 segundos. 7 quilowatts/hora de carga, cerca de 20% do total do “tanque”. A bateria que tinha descido pra menos da metade voltou ali pros 60%. Era um ponto de recarga rápido, nem todos são assim nessa velocidade. 

Quanto custa abastecer um carro elétrico em Portugal?

O aplicativo descontou 3 euros e 96 centavos, cerca de 25 reais. considerando que  um carro 1.0 faz algo entre 10 km/l e 12 km/l na estrada, então eu gastaria uns 10 litros de Lisboa a Nazaré. No mínimo uns 65 reais, pegando a gasolina mais barata aqui em Brasília. E lá em Portugal a gasolina ou diesel era uns 10 reais o litro. Então ponto para o carro elétrico em termos de custo. Só que eu podia pagar ainda menos pela eletricidade se eu aderisse ao cartão pré-pago oferecido pelas concessionárias de energia elétrica portuguesas. Ou se optasse por abastecer fora do horário de pico. 

Imagina pagar 6,50 no litro da gasolina durante o dia e 4 reais de noite? Pois é o que acontece com o carro elétrico. O aplicativo Miio me avisava logo no início os preços da energia para aquele dia, de acordo com a hora, e também de amanhã, para que eu pudesse me programar. Então eu paguei 0,57 pelo quilowatt hora ali em Nazaré, mas paguei 0,71 em um outro posto na autoestrada e 0,50 no estacionamento em Lisboa. Sendo que neste último o ponto não era de recarga rápida e levei 50 minutos para encher 5 kw/h. lembrando que eu levei 13 minutos para encher 7 kw/h lá em Nazaré. 

Mas os preços variam muito. Chega a custar metade desse valor em outra época do ano ou período do dia. 

O carro que eu aluguei vinha com um plugue para conectar em estações como a que a gente vê aqui no Brasil em shoppings. Mas se você quiser abastecer em casa tem que instalar um kit próprio. Não encaixa na tomada residencial.  

Valeu a pena?

Meu veredicto? É muito barato e não demora muito. Desde que você se programe e as bombas não estejam todas ocupadas. Aqui no Brasil a rede de abastecimento ainda é muito pequena, então o planejamento se torna ainda mais fundamental caso haja alguma viagem em mente. Na europa eles calculam o deslocamento médio de uma pessoa com seu carro particular em torno de 30 km por dia. Daria pra usar o carro umas 5x antes de ter a necessidade de completar a carga. E na hora de abastecer você gastaria um quarto ou um quinto do necessário para um carro a diesel.  Isso se você for utilizar os postos na cidade. Se a eletricidade vier da própria casa, calculo que seja ainda mais barato..

 Li várias queixas de usuários sobre os preços do Miio, dizendo que é proibitivo abastecer fora de casa. Uma associação de defesa dos direitos do consumidor corroborou essa impressão e afirmou que o elétrico só compensa se o consumidor português abastecer em casa, fora do horário de pico. É que vários subsídios foram sendo retirados nos últimos anos e os aumentos estão vindo. Em janeiro mesmo já vieram novos reajustes. Mas os números que essa associação apresentou são bem mais altos dos que eu encontrei lá nos postos que frequentei. Então talvez em outras regiões de Portugal o valor seja bem mais alto, não sei. Pra mim foi muito mais barato do que o diesel!!!

E trazendo aqui para o Brasil, o portal Mobiauto fez uma estimativa do custo para a cidade de São Paulo e concluiu que para andar 100 km um veículo elétrico gastaria cerca de 19 reais enquanto um carro a combustão precisaria de 70 reais.

O maior problema, sem dúvida, é em relação ao custo inicial do carro. Lá fora os subsídios são altos. Mas a tendência é que eles aos poucos sejam retirados. Então um carro como esse popular que eu aluguei em vez de custar 12 mil euros vai pra 17 mil. Por esse valor, 120 mil reais, o consumidor europeu pode pegar um carro a diesel super equipado. Aqui a expectativa é pela chegada do Renault Kwid elétrico, o equivalente ao meu Dacia Spring português, ainda em 2022, para brigar pelo posto de carro elétrico mais barato com o da Jac motors, ali pela faixa de 150 a 170 mil reais. É muito dinheiro. Mas é inegável que o custo de manutenção de um elétrico é muito vantajoso. Quem já trocou as lâmpadas de casa por modelos a led viu a economia que isso representa no final do mês. Investimento que pode se pagar ao final de alguns, dependendo do tanto que a pessoa usa o automóvel.

Bem, eu termino aqui o relato sobre essa experiência de passar um dia com o carro elétrico. Além de vantajosa do ponto de vista da economia, não deixei barulho nem fumaça por onde andei. E a direção do carro é muito, mas muito confortável. Minha família gostou também e acredito que, daqui pra frente, se houver a opção, o motor elétrico já sai na frente. 

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