Casamento indiano: cerimônia cheia de rituais
O Atravessar Fronteiras está desvendando algumas curiosidades do casamento hindu. No post anterior, minha convidada no blog, Ana Shah, contou-nos sobre os preparativos de um casamento na Índia. Hoje, ela fala sobre cada uma das cerimônias que ocorrem durante os vários dias de celebração. Embarque para a Índia conosco 😉
Graha Shanti
Tudo começa com esse ritual, que as famílias do noivo e da noiva fazem separadamente. Para que o casamento seja bem sucedido, os hindus acreditam que se deve começar com as bênçãos de todos os deuses sagrados e da harmonização com os planetas do nosso sistema solar. Durante a cerimônia, alguns rituais neutralizam qualquer influência negativa que um planeta poderia causar à união. Para quem não sabe, a cultura hindu tem muito da astrologia. Inclusive as datas dos casamentos são marcadas com muito critério, com base no calendário hindu e levando em conta várias condições astrológicas. Janeiro é a época mais propícia para os casamentos na Índia. Curiosidade: o meu casamento no Brasil precisou ser remarcado para um domingo, porque meu sogro observou que a data inicial (sábado) não era considerada auspiciosa.
O noivo e seus pais no Graha Shanti:
O Graha Shanti aconteceu de manhã. Uma parte dele foi dentro do apartamento, outra embaixo do bloco e outra no meio da rua.
Noite de Garba
Esse foi o evento mais divertido. Uma festa da família, realizada também embaixo do bloco. Luzes coloridas foram colocadas no prédio. Cadeiras foram dispostas em um grande círculo, em volta da roda de garba. Como os indianos são muito animados, todos dançaram até tarde, sem se importar muito que a cerimônia do casamento seria no dia seguinte pela manhã. Parece que dançar Garba é fácil, mas acreditem em mim: não é. Eu amei vestir um gagra choli – aquela vestimenta de top e saia que deixa a barriga à mostra. A noiva e seus pais estavam presentes na festa.
No vídeo abaixo, você pode ter uma ideia de como é a roda de Garba. Favor não reparar na descoordenação motora da firangi estrangeira dançando 😉
Cerimônia
A cerimônia de casamento propriamente dita aconteceu na cidade da noiva – Kalol. Nosso compromisso começou às 5h da manhã ainda em Ahmedabad, quando uma maquiadora e uma cabelereira chegaram em casa para cuidar do visual das mulheres – menos o meu, porque a sogra disse que elas não saberiam me maquiar, então eu mesma cuidei disso. Às 7h, a família do noivo saiu em comitiva. Um ônibus fretado levava a maior parte da família. Eu fui num dos três carros que seguiram junto.
Ao chegarmos no local do evento em Kalol, por volta de 9h, familiares e convidados da noiva nos aguardavam do lado de fora. Os homens de um lado da entrada, as mulheres de outro, e nós passamos pelo meio deles para entrar, em meio a uma recepção muito calorosa. Os indianos realmente sabem celebrar. Sabem aquele stress nosso antes do casamento, preocupados com tudo? Esqueçam.
Lá dentro, uma enorme área gramada ao ar livre. Comida, claro. Eles sabem se divertir – e a comida sempre faz parte. Uma grande tenda abrigava um altar no centro, com várias cadeiras ao redor. A descrição mais próxima seria a disposição de um circo.
Minha principal preocupação nessa hora era não pisar no sari e sair rolando pelo chão. Não adiantava nem pensar “tudo bem, ninguém vai ver”, porque a firangi logicamente estava sendo atentamente observada com curiosidade o tempo todo. Mas tudo deu certo: fui aprovada no teste “passar um dia de sari”.
Depois de aproximadamente uma hora, a família do noivo deixou o local para se encontrar a aproximadamente quatro quadras de lá. Era o tão esperado Vargodo. Godo, em Gujarati, quer dizer cavalo. Ao som de muita música (claro!), a família do noivo vem trazendo-o ao local da cerimônia. Ele montado a cavalo, com o traje característico; nós, ao seu redor. Os jovens vêm a frente “puxando” a comitiva, dançando. De tempos em tempos, para-se e forma-se a roda de garba e todos dançam – até o cavalo deu uma dançadinha. Eu não consigo descrever para vocês a alegria que é esse momento.
Quando chegamos, a noiva e sua família esperavam na entrada e já começaram os rituais. É tanta gente, tanto barulho, tanta alegria que é difícil até entender o que está acontecendo. Só da família do noivo, foram 300 convidados.
Quando entramos, todas as mulheres da família do noivo foram para uma casinha trocar de roupa. Eu fui a única que fiquei só olhando e ajudando, porque não tenho condições de vestir um sari sozinha e ninguém teria tempo para me ajudar – elas correm contra o tempo para estarem prontas no momento certo.
Saímos de lá com presentes para a noiva em mãos (saris, joias, bangles – pulseiras, etc embrulhados em plástico transparente e fitas coloridas) e nos dirigimos para o altar, onde todos os homens da família estavam sentados, fazendo algum ritual. Subimos, deixamos os presentes e descemos. No final da cerimônia, será a vez da família da noiva trazer malas cheias de presentes para ela.
Ou seja, eles não dão presentes para a casa e para o casal como nós damos. E o noivo não ganha nada? Ué, ganha uma linda esposa e está mais do que bom 🙂 Antigamente eles recebiam o dote, mas isso é uma tradição em desuso. Vejam a foto dos presentes que a Dhara ganhou:
O próximo momento que me recordo foi a entrada da noiva. Ela vem até o altar carregada pela família dela, que vem dançando numa alegria só. Não tem como não se contagiar. Veja no vídeo abaixo:
O que se seguem são horas de cerimônia. Rituais, rituais e rituais. Não pensem que os convidados ficam assistindo e prestando atenção em tudo. A maior parte fica dispersa na “festa” e depois vai indo embora. Eu, no entanto, fiquei ali olhando tudo com atenção e curiosidade. Num determinado momento, uma das tias me colocou sentada no altar atrás dos noivos, para que eu pudesse observar melhor.
Finalizada a cerimônia, é a hora do banquete. Numa grande mesa em U, senta a família da noiva à direita, a família do noivo à esquerda, e os recém-casados na ponta. Sim, mais comida!
Deixamos Kalol ao final da tarde e trouxemos a noiva conosco. Mais rituais à noite em casa, quando ela entra pela primeira vez, casada, em seu novo lar. Os rituais são orientados pelo brâmane e feitos pela sogra na entrada da casa. A avó está sentada no sofá, ao lado do quadro com a foto do avô falecido. Os noivos reverenciam ambos. É tão lindo o respeito que eles prestam aos mais velhos! Também reverenciam o quadro com a imagem do Deus adorado pela família: Shrinathji, que é uma das formas de Krishna – o Deus dos deuses para os hindus.
Num dos rituais, são colocadas algumas moedas numa forma de alumínio, cobertas com um líquido leitoso rosa. Noivo e noiva tentam achar as moedas, ao som da torcida que grita seus nomes (eu estava torcendo pela noiva). O Maulik pegou mais moedas, o que quer dizer que provavelmente ele que vai mandar na casa – mas pelo que entendi, isso não é levado muito a sério, é mais uma brincadeira.
O casal vai passar a Noite de Núpcias num hotel de luxo. Na religião hindu, tanto o homem quanto a mulher casam virgens. Não me perguntem se isso realmente acontece. Dizem que sim. No dia seguinte, nós fomos buscá-los no hotel (eu, o Saurabh e um tio) de carro. Ninguém faz nenhuma pergunta, nenhuma piadinha, nenhuma insinuação. Sexo na Índia não é assunto sobre o qual se converse.
E a recepção – sim, ainda tem festa nesse casamento – é tema de um próximo post. Fiquem ligados nos relatos da Ana!
Ana Shah é analista de TI e entusiasta do software livre. Pedagoga apaixonada por Educação, mãe, voluntária e interessada por tudo relacionado à cultura indiana – desde antes de “importar” o marido Saurabh da Índia. Inclusive, conheceu a Adriana Magalhães do Atravessar Fronteiras nas aulas de yoga para gestantes, em 2007. Escreve os blogs Amor Indiano, Animando-C e Apenas Mulheres de Verdade. Siga no Instagram.
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Olá, tudo bem? Achei o seu blog muito interessante. Faço aniversário de casamento no ano que vem e queria fazer um “casamento simbólico” na Índia com meu esposo. Sabe me dizer se isso é possível?
Não sei, infelizmente. Mas se você fizer uma busca, talvez ache!